domingo, 19 de setembro de 2010

Quinhentismo


QUINHENTISMO

O Classicismo português, que se desenvolve a partir do século XVI, com a vinda de Sá de Miranda da Itália (1527), é também chamado de Quinhentismo. Nesse período, porém, ainda não existia no Brasil nenhuma produção literária característica, pois, apesar de sua descoberta em 1500, em pleno Renascimento, a terra não foi explorada de imediato pelos portugueses.
No século XVI, na Europa, havia basicamente duas preocupações:
- o lucro decorrente da exploração das novas terras recém-descobertas;
- o movimento de reconquista espiritual da Contra-Reforma, na tentativa de a Igreja recuperar seus adeptos convertidos ao protestantismo.
Essas duas preocupações fizeram com que o início da literatura no Brasil atendesse ao aspecto informativo, levando a Portugal a boa notícia das riquezas da terra, e ao aspecto doutrinário, através dos textos produzidos pelos jesuítas com o objetivo de catequizar os índios e, com isso, aumentar o número de fiéis ao catolicismo.
A literatura do Quinhentismo tem como tema central os próprios objetivos da expansão marítima: a conquista material, na forma da literatura informativa das Grandes Navegações, e a conquista espiritual, resultante da política portuguesa da Contra-Reforma e representada pela literatura jesuítica da Companhia de Jesus.

Literatura de informação
Algum tempo depois do descobrimento do Brasil, Portugal começou a tomar interesse pela nova terra, mandando para cá expedições colonizadoras. Cabia a essas expedições da informes de tudo o que aqui houvesse. Viajantes e missionários europeus, que aqui estiveram, preocuparam-se não só em registrar acontecimentos, mas também dar informações sobre a fauna e a flora da terra descoberta e sobre os nativos. Esses relatos, embora não sejam propriamente literários, tem um valor inestimável como documentação, como testemunhos dos primeiros tempos do Brasil-colônia.
O primeiro autor da chamada literatura dos viajantes foi Pero Vaz de Caminha, escrivão da frota de Cabral. Ele foi o autor da carta escrita no dia 1º de maio de 1500, endereçada ao rei D. Manuel. Nessa carta, ele faz um relato detalhado do que viu na então chamada Ilha de Vera Cruz. Esse documento permaneceu inédito até 1817.
Literatura informativa

A literatura informativa, também chamada de literatura dos viajantes ou dos cronistas, consiste em relatórios, documentos e cartas que empenham-se em levantar a fauna, flora e habitantes da nova terra, com o objetivo principal de encontrar riquezas, daí o fato de ser uma literatura meramente descritiva e de pouco valor literário. A exaltação da terra exótica e exuberante seria sua principal característica, marcada pelos adjetivos, quase sempre empregados no superlativo. Esse ufanismo e exaltação do Brasil seria a principal semente do sentimento nativista, que ganharia força no século XVII, durante as primeiras manifestações contra a Metrópole[1]
Com o crescente interesse dos europeus pelas terras recém-descobertas, expedições formadas por comerciantes e militares eram organizadas no intuito de descrever e noticiar a respeito das novas terras. Entre estes, estaria Pero Vaz de Caminha, escrivão que acompanhou a armada de Pedro Álvares Cabral, em 1500. Sua Carta a El-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil é um dos exemplos mais importantes da literatura Informativa, de inestimável valor histórico.[1]
É possível notar claramente o duplo objetivo do texto contido na Carta de Caminha, isto é, a conquista dos bens materias e a propagação da fé cristã, como demonstram os seguintes trechos:[1]

Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares [...] Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.

Literatura jesuítica
Com a chegada dos primeiros colonizadores vieram também os jesuítas, que eram encarregados da catequese dos gentios.
Consideram-se como informativa dos jesuítas as obras dos padres Manuel da Nóbrega e José de Anchieta. Nóbrega relata os acontecimentos relativos à sua chegada ao Brasil. Seus escritos têm um inestimável valor como documento psicológico e histórico.
Foi conseqüência da Contra-Reforma. A principal preocupação dos jesuítas era o trabalho de catequese, objetivo que determinou toda a sua produção literária, tanto na poesia como no teatro. Mesmo assim, do ponto de vista estético, foi a melhor produção literária do Quinhentismo brasileiro. Além da poesia de devoção, os jesuítas cultivaram o teatro de caráter pedagógico, baseado em trechos bíblicos, e as cartas que informavam aos superiores na Europa o andamento dos trabalhos na Colônia. José de Anchieta se propôs ao estudo da língua tupi-guarani e é considerado o precursor do teatro no Brasil. Sua obra já apresenta traços barrocos.
Literatura classicista

Em Portugal, o Quinhentismo (Classicismo) teve início em 1527 , quando do retorno do poeta Sá de Miranda da Itália, onde viveu vários anos para estudos . Na bagagem, trazia novas técnicas versificatórias , o "dolce stil nuovo" ("doce estilo novo"). Além de introduzir no país o verso decassílabo (medida nova) em oposição à redondilha medieval (5 ou 7 sílabas), que passou a ser chamada de medida velha, trouxe uma nova conceituação artística. Devemos entender, portanto, que Sá de Miranda não trouxe para Portugal apenas um verso de medida diferente, mas um gosto poético mais refinado.
Juntamente com o decassílabo, passaram a ser cultivadas novas formas fixas de poesia, como o soneto (dois quartetos e tercetos, com metrificação em decassílabos e rimas em esquemas rigorosos), a ode (poesia de exaltação), a écloga (que tematiza o amor pastoril), a elegia (revelação de sentimentos tristes) , a epístola (carta em versos). É preciso lembrar que a substituição do verso redondilha (medida velha), característico da Idade Média, pelo decassílabo (medida nova) não se deu de forma imediata, pois ambas as medidas conviveram por grande parte do século XVI.
Original da Carta de Pero Vaz de Caminha Durante o século XVI, a Europa vive o Renascimento, época de grandes transformações culturais. Mas enquanto Portugal cultivava a literatura clássica e definia melhor a língua portuguesa através de Camões, o Brasil era apenas objeto da História. Nasceu em pleno Renascimento, mas foi, de início, deixado de lado pelos portugueses ( estes davam preferência às colônias orientais ) e só, pouco a pouco, foi sendo explorado.
Quinhentismo ou também chamada de literatura informativa foi vivido, no Brasil, em meio aos interesses da exploração de riquezas materiais. Assim, exploradores, aventureiros, índios, degredados é que compunham grande parte da população do primeiro século de vida nacional. Havia também alguns poucos intelectuais, os jesuítas, que vinham com a Companhia de Jesus.
A Carta de Pero Vaz de Caminha, escrita em 1500 ao rei Dom Manuel para dar notícias da nova terra, foi considerada a nossa certidão de nascimento. Foi o primeiro documento escrito de que se tem notícia.
A Literatura de Informação neste período, que vai de 1500 a 1601, não podemos dizer que tivemos textos literários. O que encontramos aqui são apenas textos de informação. Isto é, os aventureiros, entusiasmados com a terra recém-descoberta, deixaram manuscritos informando sobre o gentio, a vegetação, o clima, a fauna e as riquezas. Daí o nome de Literatura de Informação ou crônicas de viajantes.
Além das crônicas dos viajantes, havia também a poesia religiosa cultivada pelos jesuítas no trabalho de catequese. Os representantes mais significativos da poesia jesuítica do quinhentismo brasileiro são: Padre Manuel da Nóbrega e Padre José de Anchieta. Essas poesias eram escritas em Medida Velha ( versos redondilhos ) e de temáticas de influência ainda da Idade Média. Os jesuítas cultivavam também o teatro religioso em que eram encenados trechos da Bíblia, sempre com função pedagógica.

AS CONDIÇÕES PRIMITIVAS DE NOSSA CULTURA FORAM OBSERVADAS PRINCIPALMENTE NOS SEGUINTES TEXTOS:

A Carta de Pero Vaz de Caminha.
História da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil e o de Pero de Magalhães Gândavo.
Diário de Navegação de Pero de Lopes de Sousa.
Tratado Descritivo do Brasil de Gabriel Soares de Sousa.
Diálogo sobre a Conversão dos Gentios do Padre Manuel da Nóbrega.
História do Brasil de Frei Vicente do Salvador.
A Literatura Informativa, além de documentar uma época, serviu como sugestão para temas de outros estilos literários brasileiros. Isso aconteceu sempre que se desejou afirmar uma literatura nacionalista em relação ao excesso de europerização. Os exemplos dessa retomada dos textos informativos como temas vêm desde José de Alencar até Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Murilo Mendes e Caetano Veloso.


01.  As primeiras manifestações literárias que se registram na Literatura Brasileira referem-se a:

a)      Literatura informativa sobre o Brasil (crônica) e literatura didática, catequética (obra dos jesuítas).
b)      Romances e contos dos primeiros colonizadores.
c)      Poesia épica e prosa de ficção.
d)      Obras de estilo clássico, renascentista.
e)      Poemas românticos indianistas.
Resposta: A

 02.  A literatura de informação corresponde às obras:


a)      barrocas;
b)      arcádicas;
c)      de jesuítas, cronistas e viajantes;
d)      do Período Colonial em geral;
e)      n.d.a.


Resposta: C
 
03.  Qual das afirmações não corresponde à Carta de Caminha?
a)      Observação do índio como um ser disposto à catequização.
b)      Deslumbramento diante da exuberância da natureza tropical.
c)      Mistura de ingenuidade e malícia na descrição dos índios e seus costumes.
d)      Composição sob forma de diário de bordo.
e)      Aproximações barrocas no tratamento literário e no lirismo das descrições.

Resposta: E
  04.  (UNISA) A “literatura jesuíta”, nos primórdios de nossa história:
a)      tem grande valor informativo;
b)      marca nossa maturação clássica;
c)      visa à catequese do índio, à instrução do colono e sua assistência religiosa e moral;
d)      está a serviço do poder real;
e)      tem fortes doses nacionalistas.
Resposta: C

 05.  A importância das obras realizadas pelos cronistas portugueses do século XVI e XVII é: 
a)      determinada exclusivamente pelo seu caráter literário;
b)      sobretudo documental;
c)      caracterizar a influência dos autores renascentistas europeus;
d)      a deterem sido escritas no Brasil e para brasileiros;
e)   n.d.a.
Resposta: B

 06.  Anchieta só não escreveu:
a)      um dicionário ou gramática da língua tupi;
b)      sonetos clássicos, à maneira de Camões, seu contemporâneo;
c)      poesias em latim, portugueses, espanhol e tupi;
d)      autos religiosos, à maneira do teatro medieval;
e)      cartas, sermões, fragmentos históricos e informações.
Resposta: B

  07.  São características da poesia do Padre José de Anchieta:
a)      a temática, visando a ensinar os jovens jesuítas chegados ao Brasil;
b)      linguagem cômica, visando a divertir os índios; expressão em versos decassílabos, como a dos poetas 
      clássicos do século XVI;
c)      temas vários, desenvolvidos sem qualquer preocupação pedagógica ou catequética;
d)      função pedagógica; temática religiosa; expressão em redondilhas, o que permitia que fossem cantadas 
      ou recitadas facilmente.
e)   n.d.a.
Resposta: D
 
09. (UNIV. FED. DE SANTA MARIA) Sobre a literatura produzida no primeiro século da vida colonial brasileira, é 
      correto afirmar que:
 a)      É formada principalmente de poemas narrativos e textos dramáticos que visavam à catequese.
b)      Inicia com Prosopopéia, de Bento Teixeira.
c)      É constituída por documentos que informam acerca da terra brasileira e pela literatura jesuítica.
d)      Os textos que a constituem apresentam evidente preocupação artística e pedagógica.
e)      Descreve com fidelidade e sem idealizações a terra e o homem, ao relatar as condições encontradas no 
   Novo Mundo.
Resposta: C
 
10. (UFV) Leia a estrofe abaixo e faça o que se pede:

                Dos vícios já desligados
                nos pajés não crendo mais,
                nem suas danças rituais,
                nem seus mágicos cuidados.
                                 (ANCHIETA, José de. O auto de São Lourenço [tradução e adaptação de Walmir Ayala] Rio de Janeiro: Ediouro[s.d.]p. 110)

      Assinale a afirmativa verdadeira, considerando a estrofe acima, pronunciada pelos meninos índios em  procissão:

a)      Os meninos índios representam o processo de aculturação em sua concretude mais visível, como produto final de todo um empreendimento do qual participaram com igual empenho a Coroa Portuguesa e a Companhia de Jesus.
b)      A presença dos meninos índios representa uma síntese perfeita e acabada daquilo que se convencionou chamar de literatura informativa.
c)      Os meninos índios estão afirmando os valores de sua própria cultura, ao mencionar as danças rituais e as magias praticadas pelos pajés.
d)      Os meninos índios são figura alegóricas cuja construção como personagens atende a todos os requintes da dramaturgia renascentista.
e)      Os meninos índios representam a revolta dos nativos contra a catequese trazida pelos jesuítas, de quem    querem libertar-se tão logo seja possível.
Resposta: A

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